quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Susan Glaspell

Hoje, uma dica.
Recebi por e-mail a recomendação de um site que vale visitar.













http://www.luciasandersusanglaspell.com/

O site é dedicado a Susan Glaspell, autora que eu desconhecia, mas que despertou em mim grande curiosidade. Construído a partir de estudos de Lucia Sander, a página conta a vida e obra dessa artista norte-americana. Longe de ser um enlatado dos EUA que estamos acostumados a consumir, a obra de Susan parece fascinante.

Lucia Sander, em parceria com compositora e maestrina Dora Galesso, produziu o filme Susan. Alguns trechos da produção estão a disposição no site. Através deles, é possível perceber a forma simples e apaixonante da vida de Susan. Ela parece ter sido uma daquelas pessoas que pegam as palavras no ar, procurando a que melhor expressa o que está sentindo. Justamente por deixar extravasar o que sente, não apenas sobre a sociedade, mas também em relação a sua vida particular, é que a obra de Susan é grandiosa.


Obs.: No site http://www.dominiopublico.gov.br/ é possível encontrar, embora em inglês, três de suas obras.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Entre o Brasil e a Argentina



Um dia me falaram de lugares mágicos. Eles realmente existem, eu mesmo já estive em alguns. O engraçado é que eles tornam-se mágicos por vários motivos e não necessariamente são mágicos para todas as pessoas. Mais que isso, a atribuição de magia é algo bem subjetivo. No entanto, não é sobre o emprego de magia que cada um dá aos lugares que pretendo falar nesse texto, e sim sobre um desses lugares mágicos que conheci há poucos dias.
Há pouco mais de um mês estive em uma região onde tudo parecia estar fora de lugar (essa é uma das minhas observações sobre lugares mágicos). Estranho e engraçado ao mesmo tempo. Até as árvores pareciam esquisitas e olha que, normalmente, elas não se diferenciam muito a não ser pela espécie, já que são seres imóveis. Bem, o lugar mágico a que me refiro é a divisa seca entre Brasil e Argentina, nas cidades de Santo Antonio do Sudoeste – PR - Brasil, que faz divisa com S’Antônio, província de Missiones - Argentina; e em Dionísio Cerqueira – SC - Brasil e Bernardo de Origogi – Missiones - Argentina. Dois mundos completamente diferentes separados unicamente por aduanas.
Sabe aqueles desenhos animados em que os personagens passavam em uma cachoeira e estavam em outro mundo. Lá é assim: de um lado todo mundo fala o velho e bom português - é claro com algumas peculiaridades devido a variação lingüística - e, a menos de 200m dali, as coisas mudam de lugar e o português é substituído pelo espanhol.

Em primeiro lugar lá dinheiro brota. A desvalorização do peso devido a crise Argentina é tão grande que num piscar de olhos multipliquei meu dinheiro na conversão de reais para pesos. Eu queria que tivesse uma árvore que fizesse isso por mim todos os dias. Tudo bem, poderia ser aquele senhor de jaqueta de motoqueiro – provavelmente comprada na Argentina – que converteu nossos reais naquela tarde fria de agosto.


Neste lugar mágico tudo tem outro sentido, não apenas pelo fato de viverem uma cultura diferente (o que acontece em qualquer lugar), mas pela inconstância que vivem os habitantes daquela região, tanto brasileiros quanto argentinos. A constante oscilação das moedas dos dois países faz com que ora brasileiros lucrem com o comércio, ora argentinos. E assim, devagar e sempre, a vida vai seguindo.
O comércio ilegal é grande. O fluxo de brasileiros que atravessam a fronteira em busca de melhores preços aumenta cada vez mais. Com a moeda desvalorizada, a gasolina na Argentina chega a custar a metade do preço. As donas de casa fazem a festa e os amantes de bebidas com certeza devem achar estar no paraíso. Bons, vinhos, bons wisks.
No entanto, o mais surpreendente não foram os preços baixos ou o modo de vida simples e corriqueiro daquelas cidades argentinas, mas a oferta de um comerciante que possui um estabelecimento em frente de uma das aduanas. Depois de olharmos sua mercadoria e não levarmos nada, ele começou a nos oferecer produtos numa linguagem que misturava português e espanhol – o famoso portunhol. Vendo que realmente não levaríamos nada ele nos oferece:
- Maconha, cocaína, muniçon? (exercite seu portunhol)
A improvável pergunta do comerciante me fez rir. Não sabia se ele nos achou diferentes das pessoas que rotineiramente fazem compras na cidade (leia-se com cara de traficantes ou usuários de drogas), ou se de fato eu estava no faroeste. Ao fim, saímos de lá sem entender o verdadeiro motivo da oferta, mas certos de que lá, de fato, tudo acontece.

Não bastasse essa inesperada surpresa, devo confessar que o lugar mágico também me decepcionou. Um dos grandes atrativos argentinos são os cassinos, pelo menos para nós que vivemos em um país onde o funcionamento deles é proibido. Foi a primeira vez que entrei em um e, justamente por isso, a imagem ou fantasia que criei dos cassinos era mais ou menos a que vemos nos filmes de Hollywood. É claro que imaginei um lugar bem menor que os vistos nos filmes e com pessoas com características daquela região.
Isso de fato acertei. O lugar não tem dois andares e é pouco maior que meu apartamento. A identificação visual externa passa despercebida, caso não tivessem me contado que aquilo era um cassino não o encontraria. O local é bem iluminado internamente, mais parecido com uma sala de jogos de adolescentes norte-americanos do que propriamente o cassino da minha imaginação – com menos luzes e muitas pessoas na jogatina nas mesas.
Fora isso, o que mais me impressionou, além dos enormes copos onde é despejado todo conteúdo das Quilmes e Budwiser de um litro (que maravilha), foi o tipo de músicas tocadas no cassino, que funciona após a meia-noite como ponto de encontro dos jovens das redondezas. Ansiosa por ouvir ritmos argentinos acabei ouvindo apenas músicas brasileiras. Isso seria um fato relevante se as músicas não fossem, em sua maioria, do início dos anos 90 e de estilos musicais que não ouço geralmente.
É estranho o cassino estar tão próximo do Brasil e viver um cenário musical ultrapassado. Depois fui perceber que essa é mais uma das peculiaridades do lugar mágico. Algumas coisas parecem ter parado no tempo, ou o tempo de hoje talvez não chegou por lá. Embora eu tenha criado uma falsa fantasia (há possibilidade de existir uma fantasia falsa?) em relação ao cassino, sinto vontade de voltar. Os lugares mágicos são diferentes e é isso que os tornam inesquecíveis.

Começar (ou recomeçar) com música


É uma boa pedida.
Um final de semana chuvoso é perfeito para se pensar na vida, em poesia, em paixões e tantas coisas mais que parecem não encontrarmos tempo nos domingos quentes de verão.

Música, para mim, é uma transcendência, um sair de onde estamos para encontrar numa melodia uma simplificação do que somos.
E é justamente essa unicidade que procurava, que não encontrei nas músicas que são produzidas em Chapecó. Não que a produção local seja ruim, nem tão pouco é singular. O cenário musical se mantém, no entanto, não temos uma identidade musical como a encontrada no rock gaúcho ou na produção musical do recife (uma das minhas paixões nos últimos tempos, que tem me proporcionado ótimas surpresas).
Aqui as coisas parecem acontecer de uma forma diferente, a preocupação é fazer música global e as características regionais raramente aparecem.
E é justamente essa presença do que somos que falta em nosso cenário musical. Mostrar quem somos em ritmo e letra, transformar nosso dia-a-dia em música e registrar nossa identidade. Esse é o desafio.

Obs.: Trilha musical para o post: La bailarina – Ricardo Pacheco
http://www.garagemmp3.com.br/ricardo-pacheco